A equipe de pesquisadores da Fundação Getúlio Vargas (FGV) apresentou proposta de trabalho no Território, no dia 25 de abril, enfatizando parcerias com as Comissões de Atingidos de Rio Doce e Santa Cruz do Escalvado/Chopotó, e com a Assessoria Técnica do Centro Alternativo de Formação Popular Rosa Fortini.
A Fundação Getúlio Vargas foi contratada em janeiro de 2019 para realizar Diagnóstico, Avaliação dos impactos e Valoração dos danos socioeconômicos causados nas comunidades atingidas pelo rompimento da barragem de Fundão, Bacia do Rio Doce.
“Estamos aqui para ouvir os atingidos e saber como eles estão entendendo nossa proposta de trabalho. A Fundação fará a avaliação socioeconômica em toda Bacia do Rio Doce, observando os casos peculiares de cada Território. Também precisamos entender as relações dos atingidos com os meios em que vivem, isto é fundamental para desenvolver nossa proposta de trabalho. Faremos um trabalho técnico, mas nossa premissa é a centralidade nos atingidos”, explicou Marcos Dal Fabbro, pesquisador do Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV.
Marcos também disse que o trabalho da Fundação Getúlio Vargas será transparente e que haverá conciliação com trabalhos de outras instituições que também desenvolvem pesquisas no Território. “Sabemos que há muito desgaste neste processo, mas precisamos desenvolver um trabalho com responsabilidade e que gere um conjunto de informações e parâmetros com dados suficientes para que a reparação de fato chegue a todos os atingidos”.
Em seguida, os integrantes das Comissões esclareceram suas dúvidas e expuseram suas opiniões sobre a situação atual do Território. O engenheiro civil e produtor rural atingido, José Maurício Pereira, lembrou que o Território é permanentemente atingido. “Não fomos atingidos dia 05 de novembro de 2015, estamos atingidos até hoje. A nossa região tem vários passivos ambientais. Como vamos nos posicionar sem sabermos quais são as atividades previstas pela Fundação Renova?”
Antônio Carlos da Silva, membro da Comissão de Atingidos de Santa Cruz do Escalvado/Chopotó disse que, após três anos e meio, o dano do Território é maior do que o de 05 de novembro de 2015. “A Fundação Renova não chegou a lugar nenhum e tiveram um alto custo. Temos uma situação no território atípica, grande parte do rejeito está acumulada aqui. A população tem uma ligação muito forte com o Rio, pois sempre tiveram nele uma alternativa ou fonte de renda principal. São pescadores, faiscadores, produtores rurais, famílias que não tem lazer, e ainda convivemos com pessoas estranhas, trânsito de máquinas pesadas e problemas de saúde”.
Antônio Áureo do Carmo, membro da Comissão de Atingidos de Rio Doce, contou que ao participar das reuniões das Câmaras Técnicas nota-se certa dificuldade em aceitar as opiniões dos atingidos. “Precisamos participar do processo, sermos ouvidos. Sabemos da importância do trabalho técnico, mas a sabedoria popular faz toda a diferença”.
De acordo com o Marcos, a situação no Território é peculiar. “Vocês estão embrenhados num território que já sofreu com a construção da hidrelétrica e agora com um novo impacto. Ainda existem questões antigas que não foram resolvidas, outras que foram agravadas. Precisamos compreender estas diferenças e construir uma matriz de danos robusta para auxiliar os trabalhos em prol dos atingidos. Espero que ao final de 2019 tenhamos uma versão preliminar, uma valoração integrada, não só dos danos materiais, mas dos danos espirituais, de costumes, morais”.
Márcio Lazarini, membro da Comissão de Atingidos de Rio Doce, disse que há muito tempo gostaria de conhecer o projeto, saber como o trabalho da Fundação Getúlio Vargas seria desenvolvido, como os atingidos participariam do processo e como as questões ambientais seriam tratadas. “É com o tempo que vamos entendendo, pois são muitas ações ocorrendo ao mesmo tempo. Muitas vezes, nós mesmos, os atingidos, demoramos para enxergar um prejuízo que tivemos”.
Maria Mônica Fabri, membro da Comissão de Atingidos de Rio Doce, contou que até 2015 morava na Fazenda Porto Alegre e que, com o rompimento da barragem de Mariana, precisou sair do local. Com auxílio da família, construiu sua casa no Sítio do Quilombo. “Mudou muito o modo de vida da comunidade. Na Fazenda havia 22 funcionários de carteira assinada, hoje tem cerca de oito. Muitos pais de família estão desempregados e não são reconhecidos como atingidos. Queremos apenas o que de nosso direito”.
Para Sebastião Sílvio de Oliveira, Tininho, membro da Comissão de Atingidos de Rio Doce, a participação dos pesquisadores junto aos Núcleos de Bases será de grande importância, pois os mesmos poderão obter informações diversificadas sobre a situação atual do Território.
A coordenadora do Centro Alternativo de Formação Popular Rosa Fortini, Juliana Veloso ressaltou a parceria, a busca de qualidade e o conhecimento para que os atingidos sejam reparados da melhor forma.
Organização do Diagnóstico
O Diagnóstico a ser realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) contará com a colaboração das Assessorias Técnicas e demais instituições e atores sociais locais. Serão realizadas oficinas de construção coletiva para definição de categorias de atingidos, danos e territorialidades, além de articulação e construção coletiva para avaliação de impactos e valoração, construção coletiva da matriz e estratégias de reparação, articulação institucional e pré-teste para avaliação dos instrumentos e lógica da coleta de dados em Saúde.
Entre as frentes de trabalho estão os “Impactos sobre Assistência Social, Educação, Saúde, e Segurança Pública a partir de Dados secundários”, os “Impactos Macroeconômicos a partir de Dados Secundários”, os “Danos a Pescadores e Agropecuaristas a partir de Dados Primários”, os “Danos à Saúde a partir de Dados Primários”; e o “Diagnóstico, Avaliação e Valoração em territórios selecionados no Alto, Médio e Baixo Rio Doce”.