Muitas famílias dos municípios de Santa Cruz do Escalvado e Rio Doce perderam renda com o fim das atividades areeiras. No território havia quatro portos, cujas jazidas eram fartas e de boa qualidade. Hoje, a areia misturada ao rejeito não possui a qualidade exigida pelo mercado, o que dificulta muito sua extração no rio Doce.
Alguns trabalhadores que exerciam a atividade há anos estão desempregados, são operadores de dragas, mergulhadores, operadores de carregadeira, apontadores, motoristas, transportadores, dentre outros contratados para ajudar em serviços temporários como, por exemplo, mudança de local da draga e confecção de pré-moldados.
A fim de elaborar propostas coletivas para a categoria, uma reunião foi realizada, recentemente, no escritório central do Centro Alternativo de Formação Popular Rosa Fortini, com a presença de membros da Comissão de Santa Cruz do Escalvado/Chopotó, areeiros e membros da assessoria jurídica, Domingos de Araújo Lima Neto (Coordenação), Vanderlei da Silva Cruz (advogado) e Leonardo Rezende (Direito Ambiental). Neste dia várias situações foram expostas pelos trabalhadores do setor.
“Nós comprávamos, revendíamos e entregávamos areia. Uma atividade tradicional na minha família. Meu pai tem 45 anos que puxa areia. Quando ele começou nem draga existia, era manual. Hoje está parado, pois os caminhões dele são menores e não encontra demanda por perto”, contou Hedertaines Souto Lima, conhecido como Tequinho.
Tequinho ainda contou que ele e seus dois irmãos dependem da atividade para sobreviverem e que, após o rompimento, tudo ficou mais difícil. “Estamos fazendo "bico", desaterro, silagem, e tentando concorrer licitações em prefeituras, quando aparece, pra tentar pagar pelo menos as contas básicas. As poucas vezes que buscamos areia em outro município, o custo fica alto e não conseguimos repassá-lo ao consumidor final”.
Mário Lúcio do Nascimento trabalhou como motorista de caminhão transportador de areia por 8 anos. Hoje está desempregado, mas não pretende ir embora do município de Rio Doce. “Tenho esperança que tudo volte ao normal porque emprego aqui é difícil. Eu já tinha o costume de transportar areia, era o que eu gostava de fazer”.
José Geraldo Lana, areeiro há mais de 30 anos, explicou: “no início do lago de Candonga havia um grande volume de areia acumulado. No entanto, quando o rejeito chegou, no dia 05 de novembro de 2015, as comportas foram abertas, e este volume foi carreado para jusante. Hoje não temos como trabalhar com esta atividade, pois o pouco volume existente não tem qualidade”.
“Precisamos encontrar formas para que os areeiros retomem seus meios de vida e de sobrevivência em atividades de vocação natural”, afirma Antônio Carlos da Silva, membro da Comissão de Santa Cruz do Escalvado.
Leonardo Rezende ressaltou a importância de discutir propostas de reativação econômica para atender os trabalhadores que exerciam atividades ligadas aos portos de areia, bem como a definição de prazo para que a Fundação Renova possa executar as medidas definidas pelo grupo.
Os trabalhadores do setor foram instruídos a procurarem a assessoria jurídica nos escritórios do Centro Alternativo de Formação Popular Rosa Fortini para atendimento individual e entrega dos respectivos documentos comprobatórios das perdas e prejuízos com a atividade, bem como a indicação de possíveis soluções para o coletivo.
Fazer com que a justiça, a reparação e o direito cheguem a estas pessoas é fundamental. Ouvi-las é imprescindível. As histórias de vida laboral relatadas nos dão uma dimensão de como é preciso ser sensível para enxergar as necessidades latentes dos atingidos. A tentativa recente de enfraquecer os movimentos sociais abre uma fenda ainda maior neste abismo de relação entre mineradoras e populações locais.
Equipamentos de extração de areia sucateados
Equipamentos de extração de areia sucateados