O projeto de Assessoria Técnica Independente (ATI) do Centro Rosa Fortini voltou ao território de Rio Doce, Santa Cruz do Escalvado e Chopotó. A ATI, que atuou entre 2018 e 2022, ficou mais de um ano fora do território devido às negociações com o Ministério Público e empresas. Após a luta das pessoas atingidas junto ao Ministério Público, e a aprovação de um novo plano de trabalho, em maio de 2024, o Centro Rosa Fortini volta a assessorar o Território 1.
A coordenadora do projeto de ATI do Centro Rosa Fortini, Grasiele Fortini, explica que a entidade trabalhou por um ano e meio para construir uma nova proposta que pudesse ser aprovada e enfim voltar ao território. “Precisou finalizar o projeto [de 2018], fazer prestação de contas toda para a Renova, ela aprovar, para depois desse processo, começar a discutir um novo projeto. Na construção desse novo projeto levou um ano e meio, porque a cada momento que a gente mandava um esboço de um projeto, era necessário fazer ajustes”, destaca.
Coordenadora do projeto ATI do Centro Rosa Fortini, Grasiele Fortini, durante apresentação em Ponte Nova. Foto: PH Reinaux / ATI Rosa Fortini
O retorno ao trabalho, no entanto, não é exatamente uma continuidade do plano de trabalho anterior. O novo plano trouxe consigo um novo corpo técnico, formado por profissionais com experiência em trabalhos de assessoria técnica, ou relacionadas ao terceiro setor. Grasiele, garante que a volta ao território traz uma nova roupagem, porém com a mesma ideologia: construção de justiça com sabedoria popular.
“Nessa nova roupagem do projeto, o Centro continua com essa mesma ideologia que é garantir que as pessoas sejam protagonistas do desenvolvimento local, que elas tenham participação de maneira ativa. (...) A gente vem com esse mesmo acolhimento do projeto anterior, mas muito mais visando fazer uma escuta da realidade das pessoas, das comunidades, para juntos construirmos alternativas para que possam minimizar os problemas sociais, econômicos e os ligados ao território”, relata.
Direito à ATI
Em 2017, quando foi assinado o Termo Aditivo que consolidou o direito às ATIs às pessoas atingidas pelo rompimento da barragem de Fundão (2015) no município de Barra Longa, as pessoas atingidas de Rio Doce, Santa Cruz do Escalvado e Chopotó passaram a discutir também o direito à ATI. Foi na oportunidade que as Comissões de Atingidos e Atingidas se organizaram mais ativamente para lutar por uma assessoria técnica e também para avaliar qual entidade atuaria no território.
A coordenadora da ATI Centro Rosa Fortini, relembra como foi a organização das pessoas atingidas até a escolha pelo Centro. “Foi feito uma apresentação de um primeiro esboço de proposta de trabalho. Eles gostaram da ideia. Na época, o Centro já desenvolvia trabalho na Comunidade de Marimbondo, com algumas famílias que foram reassentadas, então parte da comunidade já conhecia o Antônio Maria e o trabalho do Centro e eles escolheram a gente”, conta Grasiele.
Porém, mesmo com a escolha da comunidade, o Ministério Público, para garantir que a voz das pessoas atingidas fosse respeitada, optou por realizar uma assembleia. O objetivo era ver se de fato todo mundo estava de acordo com a assessoria técnica escolhida. Assim, foi realizada uma reunião em uma Quadra Poliesportiva no município de Rio Doce, em agosto de 2018, com mais de 1.800 pessoas aprovando o nome do Centro Rosa Fortini.
"Foram muitas idas e vindas de reuniões com comunidade, instituições de justiça e empresas, para aprovação do plano de trabalho de 2018. Foi um trabalho desafiador, mas gratificante e com conquistas e desafios enfrentados pelo Centro Rosa Fortini. Encontramos uma comunidade sofrida e, com muito trabalho, pudemos ajudar a resgatar a dignidade de muitas famílias”, lembra o coordenador geral do Centro Rosa Fortini, Antônio Maria Fortini.
Antônio Maria, coordenador geral do Centro Rosa Fortini durante a formação da nova equipe. Foto: PH Reinaux / ATI Rosa Fortini
Com a proposta amplamente aprovada, o primeiro plano de trabalho tinha como objetivo possibilitar a efetiva participação e informação em todos os processos de decisão e cumprimento da reparação de perdas e danos vivenciados pelas famílias ou pessoas atingidas pelo rompimento da barragem de Fundão. Além disso, a ATI trabalhou na revisão dos Programas de Reparação Socioambiental, Socioeconômica, conforme Termo de Transação e Ajustamento de Conduta (TTAC) firmado com as empresas responsáveis pelo desastre-crime, as diversas entidades civis e o Poder Público.
Sobre o retorno do Centro ao trabalho de ATI, Antônio Maria acrescenta que a luta das pessoas atingidas pelo retorno da ATI, foi algo marcante para a história do Centro. “O desejo de continuar na luta das pessoas atingidas, quando finalizou o nosso contrato, nos deixou a sensação de que o nosso trabalho nesse território não tinha terminado. Por isso, foi gratificante para nós da entidade percebermos toda a mobilização dos atingidos e das instituições de justiça para nossa volta ao território. Agora, em um esforço conjunto, estamos novamente iniciando o trabalho com a responsabilidade de sempre, buscando fazer o melhor para as famílias atingidas", explica.
O novo plano de trabalho
Em 2024, o novo plano de trabalho aprovado pelo Ministério Público e Fundação Renova, para os próximos dois anos de atuação, tem um objetivo mais focado no desenvolvimento de estratégias junto à população atingida.
O plano visa fomentar tecnicamente no território uma estratégia dialogada de planejamento para implementação de programas, projetos e ações que vão da reparação à consolidação de um processo de desenvolvimento socioeconômico territorial, com elevação das oportunidades de melhoria da qualidade de vida para as comunidades atingidas.
“O Centro Rosa Fortini já possui uma metodologia testada no território, que prioriza a participação social e a centralidade das pessoas atingidas. Por meio dos profissionais da ATI é prestado o apoio técnico para as demandas coletivas e individuais em todas as comunidades. Essa prestação de serviços é monitorada tanto pelas Comissões de Atingidos e Atingidas, quanto pelas Instituições de Justiça”, esclarece o novo coordenador metodológico do Centro Rosa Fortini, Aloísio Lopes.
Aloíso Lopes, coordenação metodológica do projeto de ATI do Centro Rosa Fortini em reunião com as Comissões de Atingidos e Atingidas em Rio Doce. Foto: PH Reinaux / ATI Rosa Fortini
A ATI Centro Rosa Fortini, para continuar com a proposta metodológica de atendimento presencial das pessoas atingidas, tem dois escritórios instalados em território, além de um escritório administrativo em Ponte Nova.
Confira abaixo os novos endereços do Centro Rosa Fortini:
Escritório Rio Doce
Rua Major Eugênio Palermo, 110, Centro, Rio Doce-MG
CEP: 35442-000
Recepção: Elaine Faria, contato: (31) 9604-5900
Escritório Santa Cruz do Escalvado (Nova Soberbo)
Rua Bahia, 57, Nova Soberbo, Santa Cruz do Escalvado-MG
CEP: 35387-000
Recepção: Letícia Malta, contato: (31) 7196-1695
Escritório Administrativo (Ponte Nova)
Rua Carlos Marques, Nº 175, Guarapiranga, Ponte Nova-MG
CEP: 35430-206
Texto: Mariana Duarte (Comunicação ATI Rosa Fortini)