Pesquisa do Lactec confirma limites superiores de metais pesados no rejeito e contaminação do pescado

Publicado em: 12/11/2020

No último dia 03, atingidos de toda a Bacia do rio Doce obtiveram importantes informações sobre a caracterização do rejeito (volume estimado, composição e ecotoxicologia) despejado nos rios com o rompimento da barragem de Fundão; e sobre a qualidade da água dos rios e do pescado. As informações foram apresentadas pelo Instituto Lactec durante o 5º Seminário Integrado do Rio Doce/Esquecimento e Incertezas dos Desastres da Mineração: Resistir é Preciso, realizado ao vivo pelo Youtube.

Iniciando com a apresentação da caracterização do rejeito, a pesquisadora e coordenadora executiva do Diagnóstico Socioambiental dos danos decorrentes do rompimento da barragem do Fundão, Gleiciane Carvalho Blanc, informou que o volume estimado de rejeito despejado nos rios é de 44 milhões de m³, contendo os seguintes elementos químicos: Ferro (Fe): 12.413.610,65 ton; Alumínio (Al): 398.498,31 ton; Manganês (Mn): 56.409,22 ton; Cromo (Cr): 11.646,54 ton; Zinco (Zn): 4.644,12 ton; Bário (Ba): 2.692,56 ton; Níquel (Ni): 1.560,60 ton; Cobre (Cu): 1.265,18 ton; Arsênio (As): 922,49 ton; Cobalto (Co): 844,80 ton; Chumbo (Pb): 472,37; Estanho (Sn): 401,57 ton; Selênio (Se): 141,50 ton; Antimônio (Sb): 68,60; Mercúrio (Hg): 12,99 ton.

Para análise da composição, foram coletadas, entre junho de 2017 e maio de 2019, 74 amostras de rejeito, durante cinco campanhas, em áreas das barragens de Germano, Fundão, Santarém e trecho até a UHE Risoleta Neves. 

De acordo com os resultados da pesquisa, “os rejeitos permanecerão por uma centena de anos no ambiente e poderão afetar o tempo de recuperação dos ecossistemas, com efeitos potencialmente nocivos. O rejeito apresenta toxidade crônica, ou seja, pode haver acumulação no organismo decorrente de repetidas exposições. O rejeito causa danos ao meio ambiente e afeta flora, fauna, solo, ar e água”.

Qualidade da água dos rios

Sobre a qualidade da água, o Instituto Lactec comprovou que, apesar dos rios atingidos já apresentarem certo comprometimento na qualidade da água devido à prática da mineração na região, a presença de indústrias e a falta de saneamento, o rejeito proveniente do rompimento impactou severamente a qualidade da água dos rios. A água ficou mais turva, houve redução das concentrações de oxigênio dissolvido e aumento das concentrações de metais.

Para a turbidez e os metais foram registrados valores muito superiores aos limites dos rios da Classe 2 (Classificação dada para os rios do Carmo e Doce de acordo com a Resolução Nº 357/2005 do Conama). Na Estação de Santa Cruz do Escalvado, por exemplo, chegou a ser registrado o valor de 435.400 UNT, sendo que o valor permitido de turbidez para rios de Classe 2 é de 100 UNT.

Nos períodos chuvosos, os rejeitos depositados nas margens são levados para dentro do rio. Além disso, o material depositado no fundo dos rios retorna para a água. Com isso, o rio volta a ficar turvo e há aumento na concentração dos metais, piorando a qualidade da água e dificultando o tratamento para abastecimento da população.

Qualidade do pescado

Sobre o pescado, o Instituto informou que foram encontrados 17 metais e elementos potencialmente tóxicos relacionados ao rejeito nos tecidos musculares de peixes de água doce; que os pescados estão contaminados por metais e outros elementos potencialmente tóxicos e que esses elementos tendem a se acumular no organismo ao longo do tempo. Outro dado grave informado é que os peixes apresentaram concentrações superiores aos limites determinados pela legislação para o arsênio em todos os pontos onde foram capturados. E ainda, os organismos que vivem no fundo de rios, associados aos sedimentos, como por exemplo, cascudo e bagres, foram os que apresentaram as maiores concentrações de metais e outros elementos potencialmente tóxicos.

Os estudos do Instituto Lactec concluíram que poderão ser notadas alterações na qualidade da água enquanto o rejeito permanecer no leito dos rios e em suas margens; poderá levar décadas até que todo o rejeito seja removido de forma natural; não é possível estabelecer com exatidão uma data para a água voltar à condição anterior ao rompimento; e que mesmo que a água indique melhores condições, os seres aquáticos podem acumular metais e outros elementos potencialmente tóxicos em seus tecidos. A valoração destes danos socioambientais ainda está sendo executada pelo Instituto.

Instituto Lactec

O Instituto Lactec é uma das empresas especializadas (Experts), nomeadas pelo Ministério Público, para realizar o diagnóstico dos danos socioambientais decorrentes do rompimento da barragem de Fundão, ao longo da bacia do rio Doce e da zona costeira adjacente. Os trabalhos, realizados deste 2017 por uma equipe multidisciplinar de pesquisadores e consultores especialistas, têm como objetivo obter um quadro detalhado dos danos, por meio de coletas, pesquisas e análises de dados da região. As pesquisas foram realizadas sob a coordenação geral de Leonardo Pussieldi Bastos.

 

Acesso aos relatórios completos: http://www.mpf.mp.br/grandes-casos/caso-samarco
Acesso aos resultados: http://dignostico-riodoce.lactec.org.br/

 

Famílias nadando no rio Doce em janeiro de 2015, local próximo ao Parque Linear. Hoje  a contaminação das águas  impossibilita o lazer

Exemplar de Pacumã capturado para pesquisa apresentou manchas avermelhadas no couro

 


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