Atingidos são contra a permanência de rejeitos de Fundão no Lago da UHE Candonga

Publicado em: 13/10/2020

A possibilidade da não remoção do grande volume de rejeitos provenientes da barragem de Fundão (10 milhões de m³, de acordo com a Fundação Renova) existente no Lago da UHE Risoleta Neves (Candonga) sempre foi uma preocupação para os atingidos dos municípios de Santa Cruz do Escalvado e de Rio Doce. A angústia aumentou após análise do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) apresentado pela Fundação Renova, quando o Centro Rosa Fortini e as Comissões de Atingidos de Santa Cruz do Escalvado/Chopotó e de Rio Doce concluíram que o objetivo da Fundação é apenas retornar com a operação da UHE Risoleta Neves, retirando-se o mínimo de rejeito do Lago. A Fundação não se preocupou em apresentar uma proposta que, de fato, venha reparar os danos ambientais, sociais e econômicos causados no Território.

No EIA, a Renova descreve três cenários para remoção do rejeito do Lago. No Cenário 1, a remoção total; no Cenário 2, remoção parcial (volume de rejeito correspondente à capacidade total da Fazenda Floresta- terreno adquirido para empilhamento do material); e no Cenário 3, remoção apenas do rejeito presente nos primeiros 60 metros mais próximo da Hidrelétrica. Entre os cenários, a Fundação defende a realização do terceiro, alegando menor impacto ambiental e menor tempo para o retorno das condições de funcionamento para a UHE (2 anos).

O retorno operacional da UHE Candonga é desejo de todos, principalmente dos moradores do Território. Apesar de sua construção também ter ocasionado danos irreparáveis ao Território, posteriormente, o seu reservatório tornou-se, por 16 anos, uma área de lazer e turismo para a região. Hoje, com o acúmulo de rejeito, o Lago ficou inutilizável. Os atingidos também defendem o retorno da UHE devido aos royalties e impostos pela produção de energia (ICMS) que os municípios de Santa Cruz do Escalvado e Rio Doce deixaram de receber durante os cinco últimos anos.

Todavia, a grande pressão para o retorno operacional da UHE Candonga, paralisada em decorrência do rompimento de Fundão, pode proporcionar danos ainda maiores para a população do Território e de todos os municípios atingidos localizados a jusante da UHE. Seguindo o previsto para o cenário três - remoção mínima de rejeito com menor tempo - os atingidos seriam obrigados a conviver com um material até então desconhecido e a barragem da UHE (reservatório d’água) se perpetuaria numa barragem de rejeito em pleno leito do rio Doce.

Mesmo após cinco anos do rompimento, não foram apresentados para os atingidos estudos conclusivos sobre a caracterização do rejeito. Os atingidos não sabem se o rejeito apresenta riscos à saúde humana. Estudos da qualidade da água e do pescado para consumo humano também não foram concluídos. Por todos estes motivos, os atingidos afirmam que não existe dano maior para o Território do que a permanência do rejeito no Lago da UHE.

O desconhecimento sobre o comportamento do rejeito ao longo dos anos dentro do Lago é outro fator que traz insegurança. Até o momento, também não foi apresentado aos atingidos, o projeto executivo das obras de reforço da barragem da UHE Risoleta Neves (Candonga). Portanto, há uma grande insegurança em relação à permanência do rejeito no Lago, sem que a Fundação Renova, a Samarco e o Consórcio Aliança comprovem que a barragem da UHE terá condições de reter todo o volume de material pesado com o retorno da produção de energia.

Desde o dia 05 de novembro de 2015, data do rompimento da barragem de Fundão, as comportas da UHE Candonga permanecem abertas com o objetivo de aumentar o nível de segurança da barragem. No entanto, com o retorno operacional da UHE, as comportas serão fechadas e a barragem, construída inicialmente para reter água, deverá estar preparada para reter além da água em nível ideal para o funcionamento das turbinas, todo o volume de rejeito existente no Lago, material 2,5 mais pesado que a água.

A presença do rejeito dificulta diversos tipos de atividades econômicas que vinham sendo desenvolvidas por várias gerações como: a agricultura, a pecuária, a pesca, o garimpo, a extração de areia e até mesmo o turismo rural. Soma-se a estes fatos, a desvalorização das propriedades atingidas.

As comportas da UHE Risoleta Neves (Candonga) foram totalmente abertas para aumentar o nível de segurança da barragem. Foto: Divulgação IBAMA


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