Publicado em: 27/03/2020
Membros da Comissão de Atingidos de Santa Cruz do Escalvado/Chopotó visitaram, recentemente, dois projetos desenvolvidos por cooperativas, cujos membros são atingidos pela construção da barragem da UHE Barra de Braúna, em Laranjal/MG. A Cooperlar - Cooperativa de Produtores Rurais do Município de Laranjal, com 65 cooperados, produz mudas nativas, frutíferas e possui um plantio de seringueira de 50 hectares. A Coopescabraúna - Cooperativa dos Aquicultores de Barra do Braúna, com 28 cooperados, produz e comercializa tilápia.
“Os projetos de Laranjal foram organizados após muita luta das famílias atingidas, negociações, lutas por direitos, até firmarem um acordo coletivo. E apesar de todas as dificuldades, os projetos têm gerado renda. A Coopescabraúna produz peixes em mais de 80 tanques e comercializa para filetagem e pesque pague. Eles vendem no mínimo 1.500 quilos por semana”, conta Leonardo Rezende, advogado e consultor do Centro Alternativo de Formação Popular Rosa Fortini.
Um dos cooperados, José Montes Duarte, explicou como iniciaram os projetos. “Os primeiros projetos desenvolvidos em 2013 não obtiveram sucesso. Com o apoio do Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens, o Nacab, iniciamos a elaboração e a gestão dos projetos. Chegamos a vender R$ 540 mil de mudas para o Grupo Broksfield (empreendedora da UHE) e tivemos outro pedido de 35 mil mudas da mesma empresa. Quanto à extração do látex, teremos que aguardar as plantas chegarem ao tamanho adequado, o que deve ocorrer em três anos”.
Representando os atingidos de Santa Cruz do Escalvado e da comunidade de Chopotó (Ponte Nova), Antônio Carlos da Silva e Sebastião Bernardo foram até Laranjal atendendo ao convite do advogado Leonardo Rezende, que também assessora os atingidos da localidade.
De acordo com Antônio Carlos, eles foram em busca de alternativas para o desenvolvimento econômico de Santa Cruz do Escalvado e da comunidade de Chopotó, cujas famílias de pescadores tradicionais sofrem graves consequências por não usufruírem mais das riquezas oferecidas pelos rios do Carmo e Doce após o rompimento da barragem de Fundão. “Este tipo de projeto demonstra o quanto é importante a união da comunidade atingida”, disse.
“Pude perceber que, sem dúvida, a união faz a força. Tudo lá está acontecendo devido à união e à organização dos atingidos. Os projetos são maravilhosos. A plantação de seringueiras é um investimento com retorno garantido. A criação de tilápias em tanques é fantástica! Conhecemos todo o processo, desde alevinos até o tamanho para abate, passo a passo”, contou Sebastião Bernardo.
A visita confirmou a importância dos atingidos permanecerem unidos e ainda que eles devem buscar a reativação econômica através de projetos sustentáveis, que realmente geram renda. Cursos de capacitação são importantes, mas de acordo com os visitantes, devem ser realizados atendendo projetos efetivos para os municípios.
Também visitaram os projetos, atingidos de Diogo de Vasconcelos (UHE da Fumaça), de Conceição do Mato Dentro (Mineração Anglo American), técnicos e produtores rurais de Viçosa, e membros do Nacab.