Produtores Rurais de Santa Cruz do Escalvado/Chopotó e de Rio Doce, municípios atingidos pelo rompimento da barragem de Mariana, estiveram na Universidade Federal de Viçosa (UFV), no dia 22 de abril, a fim de conhecerem o Programa Família do Leite. O grupo foi recebido pela coordenadora do Programa, Polyana Pizzi Rotta, e pelos técnicos Anderson Souza Trece (médico veterinário) e Anna Luíza Lacerda Sguizzato (zootecnista e doutoranda na área de Nutrição em Ruminantes).
Na Unidade de Ensino, Pesquisa e Extensão - Gado de Leite (UEPE-GL), os produtores assistiram às explicações sobre o Programa, com apresentação de dados concretos das propriedades já assistidas, das conquistas e dos principais problemas enfrentados. O grupo percorreu também o estábulo, onde conheceu um pouco mais sobre manejo dos animais confinados e sobre os sistemas free stall e compost barn.
“Precisamos trabalhar com vacas de qualidade e elas exigem um cuidado especial. Esta visita foi muito boa, pois não conhecia este Programa. Percebemos que, com dedicação e investimento, a produção e o lucro podem aumentar”, disse José Penha de Souza, Zeca, produtor de leite há 30 anos em Santa Cruz do Escalvado.
O produtor do Sítio Limeira (Rio Doce), Geraldo Campos Corsini, conhecido como Dadinho, contou que, após a chegada do rejeito e a perda da área de pastagem de sua propriedade, precisou vender a preço baixo 30 cabeças de gado. “No momento preciso ser ressarcido do prejuízo que tive. Foram 15 anos de dedicação na produção de leite. Hoje, tenho toda estrutura de curral parada. O programa de Viçosa é uma excelente alternativa para recomeçarmos a produção com uma assistência adequada à nossa realidade”. Dadinho é membro da Comissão de Atingidos de Rio Doce.
No período da tarde, todos conheceram uma das propriedades assistidas pelo Programa, do jovem casal Neiomir Marinho Mendes e Thaís Cristina Gomes. Há três anos, os dois trabalhavam em um supermercado de Viçosa e então resolveram largar tudo e iniciarem a vida de produtores rurais. Com apenas três vacas e três hectares, eles iniciaram a produção de leite. As três vacas produziam cerca de 30 litros/dia, hoje eles tem 12 vacas produzindo 270 litros/dia.
“O que falta para nós é incentivo para melhoria da produção”, afirmou Noé Corcini Campos, proprietário do Sítio Fazendinha em Rio Doce e também produtor de leite há 30 anos.
Para Ronaldo Tuzzi Pereira, produtor de leite de Santa Cruz do Escalvado, o Programa é interessante. “Os coordenadores e os técnicos poderiam vir até o território para conhecerem a realidade local, os costumes. No território, eles poderão identificar outros potenciais. O que vimos lá foi uma produção com gado holandês, mas em nosso território, podemos trabalhar com gado de outra raça. É preciso que todos os produtores interessados conheçam o Programa para escolherem o melhor projeto de reativação econômica”.
Acompanharam os produtores, o coordenador executivo do Centro Alternativo de Formação Popular Rosa Fortini, Antônio Maria Fortini; o membro da Comissão de Atingidos de Santa Cruz do Escalavdo/Chopotó, Antônio Carlos da Silva; e os técnicos Ana Lourença Vaz do Nascimento, Davi Soares de Freitas e Moisés Miguel Estevam.
“O objetivo da visita é conhecer o Programa para que os produtores rurais do Território possam analisá-lo como uma das formas de reativação econômica. Quem vai definir, se é ou não viável, serão os produtores, eles têm total liberdade. A Assessoria Técnica irá auxiliar no esclarecimento de dúvidas e elaboração dos documentos necessários”, afirmou Antônio Maria Fortini.
Antônio Carlos da Silva, membro da Comissão de Atingidos de Santa Cruz do Escalvado/Chopotó disse que a região tem um grande potencial, mas que atualmente a maioria das propriedades tem baixa produção de leite. “Esta visita foi um passo importante do planejamento de reativação econômica dos municípios. Através de programas como estes, poderemos elaborar projetos voltados para agricultura familiar e trazer desenvolvimento para a região”.
Programa Família do Leite
O Programa Família do Leite é um programa de extensão da Universidade Federal de Viçosa (UFV), criado em outubro de 2012 com o intuito de treinar estudantes dos cursos de Agronomia, Medicina Veterinária e Zootecnia na pecuária leiteira e levar assistência Técnica de qualidade a produtores de leite familiares da região de Viçosa-MG. O mesmo é coordenado pelos professores do Departamento de Zootecnia da UFV, Polyana Pizzi Rotta e Marcos Inácio Marcondes.
O Programa tem quatro etapas. Nas duas primeiras, os estudantes são preparados para se adaptarem às rotinas das fazendas e recebem orientações de cada setor. Na terceira etapa, que tem duração de seis meses, os estudantes realizam visitas mensais nas propriedades, em duplas, com o acompanhamento de um técnico. Na quarta etapa, as visitas às propriedades são quinzenais ou mensais dependendo da necessidade da fazenda.