Mortes por febre maculosa em Santa Cruz podem ter relação com crime ambiental

Publicado em: 01/10/2018

As duas mortes por febre maculosa registradas em Santa Cruz do Escalvado pode ter relação com o crime ambiental da Samarco, ocorrido em novembro de 2015. A doença é transmitida pelo carrapato hospedeiro da capivara, e o desequilíbrio causado pelo desastre pode ter gerado a migração desses animais.

A cidade teve uma crescente população de capivaras, e a doença é transmitida pelo carrapato hospedeiro do animal. Um estudo está sendo realizado pela Prefeitura de Santa Cruz para checar se houve migração das capivaras para o local em virtude da tragédia de Mariana e uma consequente uma proliferação da doença. A pesquisa ainda está no início e aguarda o término para confirmações.

O professor da UFV (Universidade Federal de Viçosa) e especialista em febre maculosa, Cláudio Mafra, explica que existe a possibilidade de haver relação com a tragédia, mas que ainda não é possível afirmar isso. “É precipitado. Pode haver por conta do desequilíbrio ambiental, o que pode ter contribuído para a ida de capivara ou outros agentes para a região ou que aumentasse a taxa de infecção da bactéria nos carrapatos. Mas é preciso realizar um estudo mais minucioso”, explica.
 
Mafra ainda explica que a febre maculosa é endêmica na região de Santa Cruz do Escalvado. “Não é novidade. Há estudos da Fiocruz que mostram casos da doença há mais de três décadas. E é comum que haja períodos de silenciamento e que depois ocorra alguns casos clínicos, embora a ciência ainda não saiba o porquê”, informa.
 
A preocupação da prefeitura municipal, segundo Mafra, agora é orientar os profissionais de saúde e a população. “Fiz uma visita à cidade e fui apresentar a doença, o que acontece, qual o vetor, a incubação, os riscos. Agora o foco é que a população fique atenta para evitar novos casos e, caso haja, não tenham consequências mais graves”, conclui.
 
Em nota, a Fundação Renova – organização criada entre as empresas envolvidas na tragédia para reparar os danos causados – afirma que “monitora os indicadores de saúde dos municípios atingidos” com a finalidade de “identificar possíveis alterações no perfil de morbidade e mortalidade” com gestores públicos e de saúde. Por fim, a Fundação está desenvolvendo análises ambientais e estruturando processo para realização de estudos epidemiológicos, a fim de ampliar as informações referentes aos riscos decorrentes do rompimento e ao perfil de saúde e doenças das populações atingidas.
 
Sintomas
 
Os sintomas da febre maculosa incluem febre, dor de cabeça e dores musculares. Podem haver erupções, geralmente com escurecimento da pele ou crosta no local da picada de carrapato. A doença é muito grave e um médico deve ser procurado para tratamento imediato.
 
Óbitos
 
Exames realizados pela Fundação Ezequiel Dias (Funed), em Belo Horizonte, confirmaram as duas mortes em virtude da doença. As vítimas são Dalci Antônio da Silva, de 52 anos, e Milton Vieira da Silva, de 54. De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde, já foram registrados 28 casos de febre maculosa em Minas somente em 2018. Desses, 15 alcançaram cura e 13 morreram.
 
“Já nos reunimos com a comunidade e fizemos palestras de conscientização a respeito do doença. Os dois eram moradores da comunidade de Porto Plácido, área rural da cidade. Os exames são demorados mesmo e tem que se descartar todas as hipóteses. Por isso o diagnóstico de febre maculosa só foi confirmado há poucos dias”, afirmou Darlene Bitencourt, chefe do Posto de Saúde de Santa Cruz do Escalvado, onde os dois pacientes foram atendidos.
 
Os moradores da cidade participaram de uma ação promovida pela Secretaria Municipal de Saúde, no último dia 25, e tiverem orientações com dicas de prevenção e controle da doença. A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) informou que ainda não foi notificada sobre a segunda morte, que ocorreu no último dia 9. A primeira foi no início de junho e já foi contabilizada nas estatísticas.

 


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