A pesca no rio Doce era tradição, sustento e herança de gerações. O rompimento da barragem de Fundão, mesmo após quase dez anos, tirou dos povos tradicionais ao longo da bacia do Doce, a possibilidade de sustento pela pesca. Hoje, as comunidades buscam utilizar todo conhecimento tradicional e aplicar em outro empreendimento do mesmo ramo, para manter viva a cultura da região.

No dia 24 de julho, produtores e produtoras rurais de Rio Doce participaram de um Dia de Campo da empresa Top Fish, localizada em Rio Piracicaba. O evento foi promovido pela Emater em parceria com a Prefeitura Municipal e teve como objetivo apresentar um sistema de piscicultura de alta performance que tem se consolidado como referência na região.
A visita foi acompanhada pela equipe da Assessoria Técnica Independente (ATI) Rosa Fortini, que esteve ao lado de produtores rurais de Rio Doce durante a capacitação.
Ao longo do dia, os participantes conheceram de perto a estrutura de produção, beneficiamento e comercialização de pescado da Top Fish, propriedade do produtor André. Ele destacou que a unidade tem capacidade para beneficiar até mil quilos de peixe por dia, embora atualmente opere com cerca de 300 kg de tilápia. Parte dessa produção é destinada ao Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), o que evidencia o potencial de inserção da piscicultura no mercado institucional.
Um dos produtores presentes, José Márcio Lazarini, membro da Comissão de Atingidos(as) de Rio Doce, já tem experiência com piscicultura e demonstrou interesse em desenvolver um projeto coletivo em Rio Doce através da associação. A proposta envolve a criação de um espaço comum para o beneficiamento do pescado, fortalecendo a cadeia produtiva local.
Tanto a Emater quanto o produtor anfitrião se colocaram à disposição para apoiar os agricultores de Rio Doce que desejarem implementar experiências semelhantes. André também afirmou que sua estrutura pode ser utilizada por outros criadores da região, ampliando a colaboração entre os municípios e contribuindo para a viabilidade econômica da piscicultura.

Território de Rio Doce tem estrutura para novas propostas de produção
Na avaliação da assessora técnica da ATI Rosa Fortini, Raíssa Santos, o Dia de Campo foi bastante produtivo, oferecendo conteúdo técnico relevante e, principalmente, inspiração prática para produtores e produtoras. “Ao conhecer de perto uma experiência real de produção e beneficiamento de pescado, ficou evidente que é possível estruturar propostas concretas com os recursos oriundos da repactuação. Essa iniciativa tem um enorme potencial para o território de Rio Doce, onde muitas famílias já possuem vínculo com a pesca e poderiam fortalecer ainda mais essa atividade. […] Como próximos passos da ATI, pretendemos aprofundar esse diálogo com as famílias atingidas, escutar seus interesses e apoiar a elaboração de propostas que articulem viabilidade técnica e as práticas já desenvolvidas no território”, concluiu.
Agenda na Semana do Fazendeiro No dia 18 de julho, a assessora técnica Victória Mendes acompanhou os atingidos do território na 95ª Semana do Fazendeiro, promovida pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). Na oportunidade, todos participaram do curso “Produção de Peixes em Tanque Rede”, ministrado pelo professor Rodrigo Fortes, da Unidade de Ensino, Pesquisa e Extensão em Aquicultura da UFV. O curso apresentou, de forma teórica e prática, os principais pontos sobre a criação de peixes em tanques-rede. Foram abordados temas como estrutura ideal para implantação, dimensionamento dos tanques, aquisição de materiais, alimentação, qualidade da água e licenciamento ambiental. Com as discussões, os atingidos puderam ampliar seus conhecimentos sobre os desafios da atividade, além de terem uma visão geral sobre o mercado de pescado e as possibilidades de geração de renda com a piscicultura em tanques-rede e manterem-se no ofício da pesca. Para Célio Martins Pinto, morador de Santa Cruz do Escalvado, a participação no evento foi essencial para ampliar seus conhecimentos a partir de outras realidades: “Participei da Semana do Fazendeiro e gostei muito, foi muito objetivo. Eu já tenho experiência em piscicultura e foi muito bom para eu tirar minhas dúvidas e ter acesso a ideias e opiniões diferentes para estar melhorando mais”, concluiu. |
