Publicado em: 25/05/2020
Lugarejo tão distante
do progresso e do ruído
numa das curvas do Rio Doce
nas terras de Minas Gerais.
Do outro lado do mundo
do asfalto e edifícios
veio alguém com trena e lápis,
teodolito e prancheta
e te achou, veja só,
-em um Brasil tão imenso
pleno de serras e rios,
ideal pr’uma hidrelétrica
(só pra te aniquilar).
Chica Monteira, Zé Gomes,
Laura, Tana, Zé Modesto,
Auxiliadora, Judith, Sô Tiófi,
Zito Gomes, Mané Simplício,
Joaquim Paz, tantos e tantos “ilustres”
em suas lutas humildes
ungidos pela pobreza
e pela vida difícil
no pequenino lugar.
- Donde tiram tanta alegria
e coragem pra lutar?
Esquecidos, isolados,
sem saúde ou assistência
mais um no Brasil tão grande
que não passa na tevê.
- Aquele lugar....
Vida simples, tão pacata,
tranquila, ainda que dura.
Uma grande família, uma roça
onde todos conhecem a todos
da infância à velhice.
–Pois, vem o povo da cidade
e vai bulir com você!
Soberbo das festas de maio,
em janeiro São Sebastião,
por sinal o padroeiro.
Semana sem baile
pra ninguém virar lobisomem.
Boi-laranja caiu no fosso
com Mané Luca dentro.
Barraquinha já não tem.
O sino da igreja não bate
pra missa, enterro ou casório.
Soberbo já não existe
tão assoberbado de água:
morreu por afogamento!
Autor: João Bosco Teles Barcelos (Junho-1994)