Matéria de O Tempo não descreve realidade local

Publicado em: 23/08/2019

Antes e depois da lama na Usina Hidrelétrica Risoleta Neves (Candonga)
Pimenta nos olhos dos outros é refresco. A expressão popular transmite a indignação dos atingidos de Santa Cruz do Escalvado/Chopotó e Rio Doce em relação à matéria publicada, em 23 de agosto, no site do jornal O Tempo ( link da matéria ).
 
O texto ressalta os “desafios” da engenharia para o cumprimento dos Programas 09- Recuperação do Reservatório da UHE Risoleta Neves e 23- Manejo de Rejeito pela Fundação Renova. Todavia, as obras referentes a estes dois programas encontram-se com atrasos sucessivos e pouca solução, além de terem causado enormes danos ambientais sem o devido processo de licenciamento ambiental.  
 
De uma maneira parcial, a matéria publicada apresenta apenas uma versão da realidade, a versão da Fundação Renova. O Jornal, infelizmente, não se preocupou em ouvir a comunidade atingida, nem os técnicos da Assessoria Técnica Independente dos atingidos. A matéria também deixa transparecer um tom de publicidade, uma vez que direciona o leitor, através de links, para o site da Fundação Renova.
 
As comunidades de Rio Doce e Santa Cruz do Escalvado vêm sendo sucessivamente, atingidas pela Vale: no início dos 2000 foram impactadas pela construção da UHE Risoleta Neves (Candonga); em 2015, pelo rompimento da barragem de Fundão e, depois, a partir de 2016, se viram afetadas pelas ditas “obras emergenciais” da Samarco e da Fundação Renova, que já se estendem por longos três anos.
 
Os interesses da Fundação Renova estão voltados para a retomada da operação da UHE Risoleta Neves (Candonga), a todo custo. Já as famílias afetadas estão obrigadas a conviver com um trânsito intenso de caminhões pesados, poluição sonora, poeira tóxica do rejeito, comprometimento da estrutura de suas casas, redução do poder aquisitivo, problemas de saúde, redução das atividades de subsistência, e o pior, sem respostas da Fundação Renova.
 
Dos “10 milhões de m³ de rejeito” que estão no lago da UHE Risoleta Neves (Candonga), em quase quatro anos, a Fundação Renova não conseguiu retirar sequer 1 milhão de m³. Para agravar ainda mais a situação, a Fundação Renova armazenou este rejeito às margens do rio Doce, sem qualquer prévio estudo de impacto ambiental.
 
A técnica utilizada até o momento, gastando-se bilhões em obras de manejo de rejeito no Território, multiplicando danos ambientais e com pouca efetividade, não teve anuência da comunidade como afirma a matéria. Os atingidos querem a retirada total do rejeito e que a Fundação Renova apresente as Licenças Ambientais, como a Legislação determina.
 
Outro ponto crítico é a total ausência de estudos dos impactos provocados pelas obras. Por conta destas irregularidades cometidas há anos, foram instaurados dois inquéritos Civis pelo Ministério Público de Minas Gerais (0521.19.000473-4; 0521.19.000472-6), há poucos dias, para apurar danos ambientais praticados pela Fundação Renova. O primeiro pela extração de brita sem autorização do órgão ambiental e intervenção em Área de Preservação Permanente (APP) e o segundo também decorrente e de intervenção em Área de Preservação Permanente (APP) e captação de água, sem outorga. 
 
Assim, em nome da verdade dos fatos, o jornal O Tempo deve publicar estas considerações para o real esclarecimento da população em geral.
 
Fazenda Floresta (Antes) - Imagem Google Earth (dezembro de 2016)
 
Fazenda Floresta (Depois) - Imagem Google Earth (agosto de 2018)
 
Lama sendo dragada na Usina Risoleta Neves - Foto Ibama (maio de 2016)

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