Motivados por cobranças feitas por representantes dos atingidos e assessoria técnica do Centro Alternativo de Formação Popular Rosa Fortini, durante reuniões da Câmara Técnica de Conservação e Biodiversidade (CT Bio), o biólogo Tarcísio Brasil Caires, integrante da Ramboll (empresa contratada pelo Ministério Público Federal) e a analista ambiental do Ibama, Mônica Maria Vaz, visitaram, no dia 02 de agosto, alguns pontos do rio Doce próximos à UHE Risoleta Neves (Candonga). Os dois são membros da CT Bio.
Os atingidos demonstraram preocupação em relação à paralização do Sistema de Transposição de Peixes (STP- escada de peixe) da UHE Risoleta Neves (Candonga) e aos possíveis prejuízos à reprodução de espécies migratórias do rio Doce. A construção de três barramentos à montante, construídos pela Fundação Renova para conter o rejeito carreado pelo Rio, é outra preocupação dos atingidos. Além de interferem no ecossistema, os barramentos delimitam espaço dos peixes no Rio.
Tarcísio e Mônica, junto aos representantes das Comissões de Atingidos de Rio Doce e Assessoria Técnica, foram até o STP- escada de peixe- da UHE Risoleta Neves (Candonga) a fim de verificarem, in loco, as denúncias dos atingidos. Durante a visita, os atingidos foram informados que a Fundação Renova está providenciando o retorno de funcionamento do STP- escada de peixes.
Neste mesmo dia, a equipe acompanhou ainda a coleta de peixes realizada pelo pesquisador da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Frederico Fernandes. Os peixes serão utilizados para um estudo de tecidos musculares. As coletas contaram com o apoio do pescador Juliano Conegundes Reis.
Pesquisas do pescado
Em 2016, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), a Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Agência Nacional de Águas (ANA) lançaram chamada pública convidando interessados a apresentarem propostas de projetos de pesquisa científica, tecnológica e de inovação, tendo como objetivo a Recuperação da Bacia Hidrográfica do Rio Doce e ecossistemas associados.
Um dos projetos selecionados foi o do doutorando da UFV, Frederico Fernandes. Posteriormente, este estudo também ganhou apoio financeiro da Agência Internacional Escola de Mergulho (PADI), dos Estados Unidos. Serão cerca de 1.500 peixes coletados em 40 pontos da Bacia do Rio Doce, em locais afetados e não afetados pelo rejeito. O objetivo é realizar análise toxicológica no tecido muscular do peixe para consumo humano. Este estudo deve ser finalizado no final de 2019.
Uma análise preliminar desta pesquisa subsidiou, com outros estudos, a Nota Técnica Nº 08/2019 da Anvisa. Esta Nota Técnica teve como objetivo estimar o risco à saúde humana, decorrente da ingestão de metais, por meio do consumo de pescados originários de regiões afetadas pelo rompimento da Barragem do Fundão/MG. Para liberação desta pesquisa preliminar foi utilizado um número menor de amostras, coletadas em 10 pontos no Alto do Rio Doce, 4 áreas afetadas e 6 áreas não afetadas.
Recentemente, a Fapemig lançou outro edital para pesquisa, através do qual foi aprovado um projeto mais amplo. Além da continuação dos estudos de tecidos musculares dos peixes em áreas afetadas e não afetadas, outros profissionais estarão estudando a origem dos peixes que estão colonizando o rio Doce, hábitos alimentares dos peixes, estresse oxidativo, histologia (análise das brânquias e fígado para ver ser tem alguma modificação nos peixes), dentre outros estudos. Este estudo será realizado em 5 anos.
Também acompanharam as visitas: Márcio Lazarini e Lúcio Mauro de Oliveira Souza, representantes da Comissão de Atingidos de Rio Doce; Moisés Miguel Estevam, assessor técnico do Centro Rosa Fortini; e Igor Alvarenga, auxiliar de campo da UFV.
Parte do Sistema de Transposição de Peixes da UHE Risoleta Neves- Escada de Peixes paralizada há três anos
Membros da Comissão de Atingidos de Rio Doce acompanham visita de técnicos da Ramboll, Ibama e ATI ao Sistema de Transposição de Peixes da UHE Risoleta Neves
Pesquisadores medem traíra coletada no lago da UHE Risoleta Neves