O território de Rio Doce, Santa Cruz do Escalvado e Chopotó recebeu, na tarde do sábado (14), a Caravana Territorial do Programa Especial de Saúde Rio Doce (PES Rio Doce) – uma iniciativa do Ministério da Saúde/MS que tem como objetivo ouvir de perto as comunidades atingidas pelo rompimento da barragem de Fundão.
Participação ampliada
A atividade foi realizada na Escola Estadual Maria Amélia, no município de Rio Doce. Além dos moradores da região, a caravana contou com a presença de pessoas atingidas de Mariana e da Comunidade Quilombola de Gesteira, em Barra Longa. A participação desses grupos fortaleceu os diálogos e ampliou o olhar sobre os desafios comuns vividos ao longo da Bacia do Rio Doce.
Encontro busca diálogo com a população
O objetivo da caravana é ouvir de perto as comunidades atingidas pelo rompimento da barragem. Por meio de uma escuta qualificada, a equipe do PES Rio Doce busca construir propostas de saúde que atendam às reais necessidades de cada território.
Durante o evento, pessoas atingidas do Alto Rio Doce – Rio Doce, Santa Cruz do Escalvado, Chopotó (Ponte Nova), Mariana e da Comunidade Quilombola de Gesteira (Barra Longa) – puderam compartilhar suas vivências, preocupações e sugestões.
A atividade teve início com o gestor do PES Rio Doce do Ministério da Saúde, Sergio Rossi, explicando o que o Acordo de Repactuação de Mariana prevê de investimento na área. Ele fez um comparativo de valores sobre a proposta de acordo apresentada em 2022 e a nova proposta aceita pelo Governo Federal em 2024. Depois disso a platéia foi divida em quatro grupos para pensar e responder três importantes perguntas:
- Quais os principais problemas de saúde do seu território?
- O que sua comunidade espera do PES Rio Doce?
- Quais ações devem ser prioridades?
“Essas perguntas são para que ajude a orientar o nosso trabalho. Que a gente possa construir esse programa dentro da demanda, dentro da realidade do que vocês precisam, dentro das ações de saúde”, explicou Rossi ao público.
Preocupações semelhantes
Maria da Penha Rocha, moradora da Comunidade Porto Plácido (Santa Cruz do Escalvado) e membra da Comissão de Atingidos, defendeu a elaboração de um laudo de saúde humana específico para cada território. Segundo ela, o documento é essencial para que as políticas públicas de saúde sejam efetivadas.
“Sem um diagnóstico claro, não temos como planejar ações que façam diferença. O laudo vai mostrar o que realmente está acontecendo com a saúde das pessoas e nos ajudar a agir com mais precisão”, pontuou.
O representante do Ministério da Saúde falou sobre a importância desse estudo, mas salientou que é essencial que medidas de saúde sejam tomadas o quanto antes, pois “há muitas pessoas que precisam de acesso agora e não só depois do resultado do laudo”, destacou.
A troca de informações foi marcada pelo respeito, pela escuta ativa e pelo desejo coletivo de construir caminhos para a reparação. Durante os relatos, um ponto chamou atenção: os problemas de saúde relatados se repetem em diferentes comunidades. Problemas relacionados à saúde mental como depressão, ansiedade, suicídio, doenças de pele, câncer e até abortos espontâneos surgiram com frequência nos depoimentos, acendendo um alerta sobre as condições de vida nos territórios atingidos.
“Houve aumento no câncer e aumento no suicídio. Depois de 2017, só na minha família, que mora a duzentos metros do rio, onde que a lama passou: meu pai perdeu a laringe, as cordas vocais”, disse Júlio César Gilberto da Silva da Comunidade Quilombola de Gesteira, em Barra Longa, durante a atividade em grupo.
Agenda prevê mais encontros ao longo da Bacia do Rio Doce
No município de Rio Doce, o encontro marcou a segunda parada da Caravana Territorial do Programa Especial de Saúde (PES Rio Doce), do Ministério da Saúde. A primeira atividade ocorreu na sexta-feira, 13 de junho, em Timóteo.
A caravana segue nesta semana para outros territórios da Bacia do Rio Doce. Em Governador Valadares, os encontros estão previstos para os dias 16 e 17 de junho. No Espírito Santo, a agenda inclui Colatina, também no dia 17, e Linhares, no dia 18.
