Dia Mundial da Água: A luta das comunidades que perderam o rio após o desastre de Fundão

O rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), em 2015, foi um dos maiores desastres socioambientais da história do Brasil. Além de provocar danos incalculáveis às comunidades e contaminar o rio Doce, o rompimento  comprometeu o acesso à água de milhares de pessoas.
 
Entre os atingidos estão moradores de Rio Doce, Santa Cruz do Escalvado, Chopotó (Ponte Nova) e outros 42 municípios de Minas Gerais e do Espírito Santo. Para essas populações, a relação com o rio Doce nunca mais foi a mesma.
 
Sem o rio, sem novas memórias
 
Após o rompimento da barragem, toneladas de rejeitos de mineração desceram pelo rio Doce. A lama carregava metais pesados, prejudicando o ecossistema e colocando em risco a saúde humana. Desde então, as comunidades ribeirinhas lutam para se adaptar a uma realidade em que o rio já não pode ser usado como antes.
 
“A água que tomamos não vem direto do rio, mas ficamos prejudicados pelo fato de não usarmos para irrigação das hortaliças, dos banhos, das pescas, das brincadeiras lá na areia em épocas. Muitos pais levavam seus filhos para ensinar-lhes nadar, pescar com anzóis, balaios e perneiras. Fazíamos tantas coisas no rio, e hoje nem podemos pisar na beira”, relata Zenilda José Gomes Rodrigues (Roxa), da Comunidade Merengo, em Santa Cruz do Escalvado.
 
Qualidade da água 
 
A insegurança em relação à água tornou-se uma questão central nas comunidades atingidas. Em Rio Doce, Santa Cruz do Escalvado e Chopotó, a pesca, que antes era fonte de renda para muitas famílias, foi drasticamente reduzida. Em algumas localidades, a atividade sequer é mais praticada.
 
Maria da Penha Rocha, presidenta da Associação de Pescadores de Porto Plácido, em Santa Cruz do Escalvado, lamenta o impacto sobre os pescadores e o modo de vida da população ribeirinha.
 
“Vejo a tristeza das pessoas que pescavam nesse rio para comer, para vender e para sobreviver, e hoje eles ficam na incerteza porque não tem um laudo até hoje, favorável, para que a gente possa consumir e até mesmo vender. Se vender também ninguém vai querer comprar peixe desse rio que todo mundo sabe que está poluído. É uma tristeza não ter aquele rio que a gente tinha. Era nosso modo de vida, era nossa riqueza, era nossa casa, nossa família. O rio era tudo para nós. E infelizmente, no Dia da Água, a gente não tem nada para comemorar – só tristeza”, desabafa.
 
E agora?
 
Apesar das medidas adotadas para minimizar os impactos, os desafios persistem. As comunidades esperam soluções definitivas para a retirada dos rejeitos de minério de ferro do rio Doce e da Usina Hidrelétrica Risoleta Neves (Candonga), que ainda abriga mais de 9 milhões de metros cúbicos de rejeito.
 
O impacto ambiental de tragédias como a de Mariana e, posteriormente, a de Brumadinho, em 2019, evidencia como a negligência pode comprometer gerações futuras. Enquanto isso, a memória da lama segue viva, um alerta constante sobre a importância da preservação dos recursos hídricos e do uso responsável da água.
 
O desastre de Mariana deixou marcas profundas, mas também reforçou a urgência de proteger um bem essencial à vida. Se a água é um direito, garantir sua preservação é um dever.
 
 
Texto: Mariana Duarte (Comunicação Centro Rosa Fortini)

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